terça-feira, 18 de junho de 2013

7 manifestações que tomaram as ruas do Brasil

Jessica Soares 17 de junho de 2013
O Brasil está nas ruas. Nas últimas semanas, em diversos cantos do país, manifestações que tiveram início como uma reivindicação de melhores condições de mobilidade urbana se tornaram também um grito pela liberdade e por um Brasil melhor. Nesta segunda-feira, novas ações articuladas na internet aconteceram em pelo menos 10 cidades do país. Pode parecer uma surpresa para quem se acostumou a considerar esta a era do “ativismo de sofá”, mas ao longo da história, os brasileiros já saíram muitas vezes às ruas para protestar, reivindicar e se fazer ouvir. Relembre outras 7 manifestações que tomaram as ruas do Brasil:

1. Revolta do Vintém
Ano: 1878 e 1879
O problema nunca foi apenas os 20 centavos. O famoso vintém, denominação para a antiga moeda de 20 réis, também já gerou protestos no Brasil. Uma delas ocorreu entre 28 de dezembro de 1879 e 4 de janeiro de 1880, no Rio de Janeiro. O motivo? A cobrança de 20 réis nas passagens dos bondes. A revolta provocou conflitos entre a população e as forças armadas, o que terminou com números trágicos de mortos e feridos. No final, a pressão popular venceu e as autoridades e companhias de bonde anularam o reajuste.

2. Revolta da Vacina
Ano: 1904
No início do século 20, o Rio de Janeiro ainda não era a Cidade Maravilhosa. As condições sanitárias e intensas epidemias impediam a chegada de investimentos, maquinaria e mão-de-obra estrangeira. Para tentar conter a situação, o então presidente da República Rodrigues Alves nomeia Oswaldo Cruz como chefe da Diretoria de Saúde Pública. “Dêem-me liberdade de ação e eu exterminarei a febre amarela dentro de três anos”, teria dito o sanitarista. O prometido foi cumprido, mas não sem antes desencadear uma revolta na população. A arbitrariedade das ações, com invasões de lares, interdições forçadas e despejos, levou às ruas mais de 3 mil pessoas. O saldo final da revolta que tomou a cidade entre os dias 10 e 18 de novembro foi de 30 mortos, 110 feridos, cerca de 1.000 detidos e centenas de deportados.

3. Greve da meia-passagem
Ano: 1979
Três aumentos nas passagens em apenas um ano. Em 1979, os estudantes de São Luís (Maranhão) foram para as ruas pedir o meio passe estudantil. No dia 17 de setembro, mais de 15 mil pessoas se reuniram na Praça Deodoro. Taxados de “marginais” e de “subversivos”, estudantes encontraram forte repressão da polícia. Pelo menos 50 pessoas foram admitidas em hospitais públicos, 300 pessoas foram presas e mais de 1000 detidas. Mas a manifestação colheu frutos: em 1º de outubro a lei da meia passagem foi sancionada.

4. Diretas Já
Ano: 1984
As primeiras manifestações aconteceram em Abreu de Lima, município de Pernambuco, em 1983. Mas foi em 1954 que o povo tomou as ruas para pedir a volta das eleições diretas, abolidas com o Golpe Militar em 1964. O primeiro recorde foiem Belo Horizonte: no dia 24 de fevereiro, mais de 400 mil se reuniram na Avenida Afonso Pena. Depois, foi a vez do Rio de Janeiro: mais de 1 milhão de pessoas se reuniram na Candelária no dia 10 de abril. Em São Paulo, o número de manifestantes ultrapassou a marca de 1,5 milhões no dia 16, no Vale de Anhangabaú.

5. Impeachment de Collor
Ano: 1992
Com tinta amarela e verde no rosto, os cara-pintadas foram às ruas em 1992 pedir o impeachment do então presidente do Brasil Fernando Collor de Melo, envolvido em denúncias de corrupção. Na manhã do dia 25 de agosto, cerca de 400 mil jovens se reuniram no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Em Recife, outros 100 mil se reuniam; em Salvador, tomaram as ruas 80 mil pessoas. No dia 18 de setembro, outros 750 mil se reuniram nas ruas de São Paulo. Collor renunciou de seu cargo em 29 de dezembro de 1992.

6. Marcha dos 100 mil
Ano: 1999
Em 26 de agosto de 1999, cerca de 100 mil pessoas se reuniram na Esplanada dos Ministérios para protestar contra o governo de Fernando Henrique Cardoso. Com apoio de sindicatos e partidos de oposição, os manifestantes de Brasília e outros estados brasileiros pediam a abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigação da corrupção do governo federal.

7. Revolta da Catraca
Anos: 2004 e 2005
Em 22 de junho de 2004, o Conselho Municipal de Transportes de Florianópolis aprovou o aumento em 15,6% da tarifa do precário transporte público da cidade. Foi a gota d’água de uma insatisfação que começara ainda em 1996, quando a prefeitura apresentou o projeto de implementação do Sistema Integrado de Transportes (SIT). O serviço foi oferecido à iniciativa privada, com financiamento superior a 8 milhões. Concluído em 2003, foi alvo de críticas: percursos ficaram mais demorados, baldeações desnecessárias foram implementadas. Entre os dias 28 de junho e 8 de julho, o povo foi às ruas em manifestações marcadas pelo fechamento de pontes que ligam a ilha à parte continental da cidade, impedindo o trânsito na principal via de acesso aos bairros e municípios da grande Florianópolis. Em 2005, um novo aumento desencadeou novas manifestações, mais duramente repreendidas pela polícia.

terça-feira, 4 de junho de 2013

A ORIGEM O HOMEM DE FERRO E A GUERRA FRIA

A origem do Homem de Ferro e a Guerra Fria

Em 2013 comemoram-se os 50 anos do Homem de Ferro, famoso personagem de histórias em quadrinhos da editora norte-americana Marvel Comics. Não é por acaso, portanto, que no final de abril tivemos a estréia da terceira parte das suas aventuras no cinema.
No embalo deste momento de grande interesse do público pelo herói de armadura, resolvi postar trechos de um artigo sobre sua origem escrito por Waldomiro Vergueiro, pesquisador e professor da USP especializado em quadrinhos. Publicado originalmente em 2008 para os 45 anos do Homem de Ferro.
Onde entra a História nisso?
Criado em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby (autores de outros ícones das HQs como o Homem-Aranha, os X-Men e os Vingadores), o Homem de Ferro surge em pleno auge da Guerra Fria, e tem suas origens e histórias iniciais totalmente moldadas pela disputa ideológica que dividiu o mundo entre os blocos capitalista (liderado pelos EUA) e socialista (sob a liderança da União Soviética) no período de 1945-1991. Podemos dizer então que o herói serviu como instrumento de propaganda dos EUA no período, combatendo vilões que muitas vezes eram originados na URSS.
Siga então abaixo trechos do artigo do prof. Waldomiro Vergueiro sobre a origem do Homem de Ferro!
A criação do Homem de Ferro nas histórias em quadrinhos
Super-herói era reflexo dos conflitos da política mundial
por Waldomiro Vergueiro
O ano era 1963. O período era bastante conturbado. Praticamente recém-saído da crise dos mísseis de Cuba, o governo norte-americano, então sob a presidência de John F. Kennedy, havia decretado, em fevereiro, a ilegalidade de qualquer viagem, negócio ou transação comercial de cidadãos americanos com a ilha de Fidel Castro. Acirrava-se, assim, a Guerra Fria, que dividia o mundo entre duas proposições ideológicas distintas - o capitalismo, de um lado, e o socialismo, de outro - e levaria a vários golpes de estado no continente latino-americano, a intervenções em conflitos armados em várias partes do mundo, a uma corrida armamentista que parecia não ter fim. A Guerra Fria duraria até o início da década de 1990, com a extinção da União Soviética.
(...)
A gênese do Homem de Ferro está situada em um ambiente de confronto característico da Guerra Fria: o Vietnã. Na época, os Estados Unidos alimentavam os conflitos neste país com homens e armamentos, mas não se encontravam ainda abertamente envolvidos. É no fornecimento de armamentos que atua o bilionário Tony Stark, industrial que, ao inspecionar o uso de uma arma projetada por sua fábrica, é vítima de um acidente que aloja estilhaços de bomba em seu coração, gerando uma situação de constante ameaça.
Encontrado pelos vietnamitas, Stark é aprisionado e forçado a desenvolver uma arma para eles, contando para isso com a ajuda de um velho cientista. Enganando seus carcereiros, Stark desenvolve uma armadura de ferro à base de transistores, que lhe possibilita manter seu coração batendo normalmente e representa uma arma inigualável. Derrotado o inimigo, ele retorna ao seu país e inicia sua carreira como super-herói. (Nota: Parecido com a origem apresentada no cinema, porém em outra parte do mundo e em diferente contexto histórico)
Desde seu início, o Homem de Ferro foi uma personagem marcada pela contradição. Tratava-se de um bilionário e fabricante de armas, alguém não apenas indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas mas que também se beneficia pessoalmente disso. Constituía, assim, alguém que dificilmente poderia ser considerado um herói pela maioria dos leitores.
(...)
Infelizmente, o aspecto político foi o elemento mais forte nas primeiras aventuras do Homem de Ferro. Invariavelmente, seus maiores adversários vincularam-se à divisão entre capitalismo e socialismo. Assim, vilões como o Mandarim, o Dínamo Escarlate, Bárbaro Vermelho, Homem de Titânio e outros são carregados de teor ideológico, deixando evidentes as tendências políticas do protagonista. Não faltam, inclusive, veladas referências à realidade dos países sob a égide da doutrina socialista, cujos mandatários são freqüentemente tratados por denominações como terroristas ou tiranos.
Esse maniqueísmo do herói só seria suavizado no final dos anos sessenta, quando crescia entre o povo estadunidense a rejeição à participação do país na Guerra do Vietnã. Nesse período, Tony Stark tornou-se pacifista e negou-se a continuar inventando armamentos, entrando em uma nova fase de sua vida."