terça-feira, 16 de abril de 2013

CAXEMIRA: DE PARAÍSO A INFERNO

A Caxemira já foi considerada o "Paraíso na Terra". Hoje, depois de mais de meio século de disputas pela posse do território, mais parece o inferno. Nos últimos tempos, esse pedaço do subcontinente indiano voltou a chamar as atenções do mundo: Índia e Paquistão — dois países com poder de fogo nuclear — elegem o desejo de controlar o território como motivo para discórdias e ataques intermináveis.


A briga entre Índia e Paquistão pela posse da Caxemira começou com o final do controle britânico na região.


Região estratégica


A Caxemira é uma região montanhosa, já no início da cordilheira do Himalaia.
Quando chegou à Caxemira, Jerangir, imperador mongol do século XVII, disse: "Se existir um paraíso na Terra, ele fica na Caxemira". Uma região de montanhas cobertas de neve, vales cortados por inúmeros rios, terras férteis e riquezas minerais ainda não totalmente exploradas. Não é à toa que tenha dado origem a uma briga que já dura mais de 50 anos. Mas além de toda essa abundância, um outro interesse está em jogo: a área é estratégica, pois faz divisa entre Índia, Paquistão, China e Afeganistão. Para o Paquistão, a anexação da Caxemira a seus territórios representaria uma fronteira direta com a China, sua aliada de longos anos. Já para a Índia, a manutenção do controle da Caxemira impede o fortalecimento de dois tradicionais inimigos em suas fronteiras. É claro que as razões estratégicas não são explicitadas pelos governos em questão. Oficialmente, o motivo central do conflito é uma disputa pelo território. E o combustível é o conceito religioso.

Divisão do Império Britânico

Em 1947, após o movimento de resistência pacífica liderado por Mahatma Gandhi, a Índia finalmente obteve sua independência da Grã-Bretanha. O antigo território controlado pelos ingleses foi dividido entre Índia e Paquistão — que eram, até então, um único país: os territórios de maioria muçulmana ficaram com o Paquistão e os de maioria hindu, com a Índia. Mas houve uma exceção: a Caxemira, governada na época pelo marajá Hari Singh. O marajá pediu apoio ao governo hindu contra grupos paquistaneses que começavam a invadir a região. Em contrapartida, assinou um tratado anexando a Caxemira à Índia. Com isso, deu início a um conflito que originou duas guerras entre Paquistão e Índia: a primeira entre 1947 e 1948 e a segunda em 1965. Em 1999, por alguns dias, a Índia bombardeou grupos apoiados pelo Paquistão que haviam entrado em seus territórios.

A posição dos dois países

Segundo o governo paquistanês, a Caxemira deveria fazer parte do Paquistão porque a maioria de sua população é muçulmana e sofre perseguições dos hindus. A Índia se recusa a discutir o assunto tanto com o país vizinho quanto com a ONU e afirma que tem direito sobre a área, garantido por antigos tratados. Existe, porém, uma terceira opção, que ganha cada vez mais adeptos na própria Caxemira, mas que não é aceita nem pela Índia nem pelo Paquistão: o estabelecimento da região como um estado independente.

Linha de controle

Em janeiro de 1949, depois do final da primeira guerra pela posse do território, a ONU estabeleceu uma linha de controle monitorada por suas tropas na fronteira entre os dois países: dois terços da região para a Índia, um terço para o Paquistão. Essa linha, definida pelo Acordo de Simla, atravessa os Himalaias, numa região a 5 mil metros de altura. Ao norte da linha de controle, paquistaneses e hindus estão entrincheirados desde 1984, numa região a 6 mil metros de altitude — o mais alto campo de batalha do planeta, onde as condições extremas e o frio causam mais mortes do que os eventuais tiroteios.

Tensão constante

Apesar da presença de tropas da ONU, a Caxemira continuou sendo um foco de tensão. Grupos paquistaneses frequentemente se infiltram no território hindu, organizando atentados. A Índia, por sua vez, acusa o governo paquistanês de apoiar logística e financeiramente esses grupos considerados terroristas. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, e o início do chamado "combate ao terror", a Índia aproveitou para chamar a atenção mundial para a atuação desses grupos. Em contraponto, o Paquistão nega envolvimento com terroristas e ainda acusa a Índia de promover um "governo de terror", de repressão aos muçulmanos na Caxemira.

nuclear


O que parecia uma briga de vizinhos ganhou contornos ameaçadores quando Índia e Paquistão entraram para o seleto grupo dos países que possuem armas nucleares.

Guerra Fria

As tensões na região da Caxemira têm um ingrediente a mais, que torna o conflito preocupante para todo o planeta: tanto Índia quanto Paquistão possuem armas nucleares. Como é possível dois países tão pobres terem tanto poder de fogo? A resposta a essa pe1rgunta nos leva de volta à época da Guerra Fria. A fim de barrar o avanço do comunismo na Ásia, após a Revolução Chinesa, os Estados Unidos firmaram acordo com o Paquistão. Em contrapartida, a União Soviética se aproximou da Índia. Dessa maneira, os dois países receberam auxílio tecnológico das superpotências para desenvolvimento de energia atômica "com objetivos pacíficos". No final da década de 1950, o Paquistão inaugurou seu primeiro reator nuclear.

Mudança de aliados

Tratado antinuclear
Em 1996, Índia, Líbia e Butão foram os únicos países a votar contra o Tratado de Proibição Total de Provas Nucleares na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Após a guerra entre Índia e China, em 1962 — que teve a última como vencedora —, chineses e paquistaneses se tornaram aliados contra o inimigo comum. A partir daí, o Paquistão se afastou dos Estados Unidos e passou a contar com auxílio chinês no desenvolvimento de um programa nuclear para fins militares. Na década de 1990, os norte-americanos suspenderam definitivamente o auxílio financeiro e a venda de armas ao Paquistão. Em resposta, o país afirmou que daria continuidade às pesquisas nucleares com ajuda exclusiva da China.


Primeiros testes

Enquanto isso, a Índia também avançava em suas pesquisas nesse campo. E, em 1998, fez os primeiros testes nucleares em seu território, detonando três bombas no deserto de Rajastán, a poucos quilômetros da fronteira paquistanesa. Poucos meses mais tarde, em resposta à atitude hindu, o Paquistão também realizou seus primeiros testes. Como consequência, o século XX terminou com mais dois "sócios" no restrito "Clube Nuclear". Oficialmente, possuem bombas atômicas Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha, Coreia do Norte, Israel, Paquistão e Índia.


FONTE: Klick Educação

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