terça-feira, 4 de junho de 2013

A ORIGEM O HOMEM DE FERRO E A GUERRA FRIA

A origem do Homem de Ferro e a Guerra Fria

Em 2013 comemoram-se os 50 anos do Homem de Ferro, famoso personagem de histórias em quadrinhos da editora norte-americana Marvel Comics. Não é por acaso, portanto, que no final de abril tivemos a estréia da terceira parte das suas aventuras no cinema.
No embalo deste momento de grande interesse do público pelo herói de armadura, resolvi postar trechos de um artigo sobre sua origem escrito por Waldomiro Vergueiro, pesquisador e professor da USP especializado em quadrinhos. Publicado originalmente em 2008 para os 45 anos do Homem de Ferro.
Onde entra a História nisso?
Criado em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby (autores de outros ícones das HQs como o Homem-Aranha, os X-Men e os Vingadores), o Homem de Ferro surge em pleno auge da Guerra Fria, e tem suas origens e histórias iniciais totalmente moldadas pela disputa ideológica que dividiu o mundo entre os blocos capitalista (liderado pelos EUA) e socialista (sob a liderança da União Soviética) no período de 1945-1991. Podemos dizer então que o herói serviu como instrumento de propaganda dos EUA no período, combatendo vilões que muitas vezes eram originados na URSS.
Siga então abaixo trechos do artigo do prof. Waldomiro Vergueiro sobre a origem do Homem de Ferro!
A criação do Homem de Ferro nas histórias em quadrinhos
Super-herói era reflexo dos conflitos da política mundial
por Waldomiro Vergueiro
O ano era 1963. O período era bastante conturbado. Praticamente recém-saído da crise dos mísseis de Cuba, o governo norte-americano, então sob a presidência de John F. Kennedy, havia decretado, em fevereiro, a ilegalidade de qualquer viagem, negócio ou transação comercial de cidadãos americanos com a ilha de Fidel Castro. Acirrava-se, assim, a Guerra Fria, que dividia o mundo entre duas proposições ideológicas distintas - o capitalismo, de um lado, e o socialismo, de outro - e levaria a vários golpes de estado no continente latino-americano, a intervenções em conflitos armados em várias partes do mundo, a uma corrida armamentista que parecia não ter fim. A Guerra Fria duraria até o início da década de 1990, com a extinção da União Soviética.
(...)
A gênese do Homem de Ferro está situada em um ambiente de confronto característico da Guerra Fria: o Vietnã. Na época, os Estados Unidos alimentavam os conflitos neste país com homens e armamentos, mas não se encontravam ainda abertamente envolvidos. É no fornecimento de armamentos que atua o bilionário Tony Stark, industrial que, ao inspecionar o uso de uma arma projetada por sua fábrica, é vítima de um acidente que aloja estilhaços de bomba em seu coração, gerando uma situação de constante ameaça.
Encontrado pelos vietnamitas, Stark é aprisionado e forçado a desenvolver uma arma para eles, contando para isso com a ajuda de um velho cientista. Enganando seus carcereiros, Stark desenvolve uma armadura de ferro à base de transistores, que lhe possibilita manter seu coração batendo normalmente e representa uma arma inigualável. Derrotado o inimigo, ele retorna ao seu país e inicia sua carreira como super-herói. (Nota: Parecido com a origem apresentada no cinema, porém em outra parte do mundo e em diferente contexto histórico)
Desde seu início, o Homem de Ferro foi uma personagem marcada pela contradição. Tratava-se de um bilionário e fabricante de armas, alguém não apenas indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas mas que também se beneficia pessoalmente disso. Constituía, assim, alguém que dificilmente poderia ser considerado um herói pela maioria dos leitores.
(...)
Infelizmente, o aspecto político foi o elemento mais forte nas primeiras aventuras do Homem de Ferro. Invariavelmente, seus maiores adversários vincularam-se à divisão entre capitalismo e socialismo. Assim, vilões como o Mandarim, o Dínamo Escarlate, Bárbaro Vermelho, Homem de Titânio e outros são carregados de teor ideológico, deixando evidentes as tendências políticas do protagonista. Não faltam, inclusive, veladas referências à realidade dos países sob a égide da doutrina socialista, cujos mandatários são freqüentemente tratados por denominações como terroristas ou tiranos.
Esse maniqueísmo do herói só seria suavizado no final dos anos sessenta, quando crescia entre o povo estadunidense a rejeição à participação do país na Guerra do Vietnã. Nesse período, Tony Stark tornou-se pacifista e negou-se a continuar inventando armamentos, entrando em uma nova fase de sua vida."


 

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